tag:blogger.com,1999:blog-362785982024-03-13T22:38:23.689-07:00HorizontesThereza Christina Rocque da Mottahttp://www.blogger.com/profile/12771417108487262484noreply@blogger.comBlogger1125tag:blogger.com,1999:blog-36278598.post-1161239418337524982006-10-18T23:29:00.000-07:002015-07-31T16:19:05.302-07:00HORIZONTES<span class="Apple-style-span" style="font-size: small;"><span class="Apple-style-span" style="font-family: arial;">HORIZONTES<br /><br />1. RAWALPINDI<br />A Benazir Bhutto, em memória<br /><br />Derramem-se as flores.<br />Este dia passará.<br />Todos estarão entregues<br />à dor de serem efêmeros.<br />A vida passará.<br />Passarão os homens e mulheres<br />que choraram, riram e viveram.<br />Passará o gesto,<br />o olhar, a voz, a luz.<br />Mesmo as flores passarão.<br />As aflições morrerão com elas.<br />Nelas restam os adeuses<br />e o silêncio.<br /><br />31/12/2007 – 1h15<br /><br />2. VENEZA<br /><br />Esta a casa.<br />A areia em que assentaste tua messe<br />aqui se eleva acima do horizonte,<br />lume a apontar distâncias de um céu e outro<br />que tomba sobre a terra.<br />Concebes a casa onde estiveste,<br />vestígio de bruma e nau despida.<br />Teus velames,<br />cordas estiradas<br />a girar a roda<br />de tua fortuna.<br /><br />12/04/2008 – 14h30<br /><br />3. AMÃ<br /><br />O que mais há,<br />na destêmpera de agora,<br />o fruto, frágil<br />e circunspecta medida,<br />enquanto espera.<br />A vida há de ser mais larga<br />por vê-la de fora,<br />e de dentro,<br />fecha-se em escarpa e,<br />íngreme, ausculta o salto.<br /><br />6/05/2008 – 3h23<br /><br /><br />4. CÁDIZ<br /><br />Ouço, na clareza desta tarde,<br />o sol se pôr sobre a terra escura.<br />Eu, qual peregrino,<br />no silêncio de minha prece,<br />oro em versos que me escapam.<br />Fico, na caverna,<br />entre crânios limpos,<br />catacumbas<br />de meus santos.<br /><br />30/05/2008 – 13h53<br /><br />5. ORMUZ<br /><br />O que fui de início e já não sou,<br />cantilena de repastos múltiplos,<br />ordem de vida e de estreiteza,<br />sinal de homens e tristeza.<br />O que sou e não reconheço,<br />uma face mais antiga do que esta,<br />esta, nova, e ainda amena,<br />para que serve,<br />alento e personagem?<br />Não sei, e o que serei é muito.<br /><br />23/06/2008<br /><br />6. ALEXANDRIA<br /><br />Aqui fica o farol,<br />em meio a toda a terra.<br />Circunavega o barco<br />e eu vou à proa,<br />sereia esculpida na madeira.<br />O barco singra sem remos,<br />as velas rasgadas ao vento,<br />e o mastro, ainda ereto,<br />espera o raio parti-lo ao meio.<br />Teus deuses se foram<br />e só o mar te acompanha.<br /><br />25/07/2008 – 22h30<br /><br />7. AGRA<br /><br />Teus poemas nascem<br />como repentinos frutos,<br />de uma árvore antiga,<br />sobre o solo árido,<br />que colhe a seiva última,<br />lastro de poesia,<br />e se funde em tua pena,<br />derramando as sementes,<br />arquejantes de beleza<br />e plenitude.<br /><br />27/07/2008 – 20h22<br /><br />8. BABEL<br /><br />A cada noite, pousam mistérios.<br />Um negror em torno das árvores,<br />deslocando-as da paisagem.<br />Torpor e desvelo a cobrir os olhos.<br />Ao longe, o indecifrável tormento,<br />irradiando por toda parte<br />– o gesto, imenso,<br />sobre o que nos resta.<br /><br />28/07/2008 – 1h58<br /><br />9. NÍNIVE<br /><br />Assim nos entretém,<br />a vida, doçura extrema,<br />e a morte, nefasto antro,<br />entre a música ouvida,<br />e a palavra já dita,<br />sempre que lembrada,<br />desdita,<br />daquilo que me sobrevém.<br /><br />28/07/2008 – 13h54<br /><br />10. BÓSFORO<br /><br />É minha sombra essa antiga alma,<br />suspensa agora, à espera,<br />dos dias e horas que se sucedem,<br />à míngua, longa e ferida de mitos,<br />essas faces bruscas e sentidas,<br />esse acaso de quimeras,<br />enfatuada sede que não finda.<br /><br />31/07/2008 – 13h50<br /><br />11. SHIRAZ<br /><br />Começo por dizer-me presente,<br />porque as horas,<br />essas infindas noites,<br />dirigem-se sozinhas ao seu destino.<br />Envolvo-me aos poucos,<br />com os dizeres de ontem,<br />pois o que é dito agora<br />não me soa autêntico.<br />Serei esta inoperante espera,<br />tudo à cerca do meio,<br />a vida, a obra e seu permeio.<br /><br />4/08/2008 – 23h30<br /><br />12. TEERÃ<br /><br />Segue, tu que esperas,<br />nada virá a teu encontro por si só.<br />Terás o que te foi dado<br />e embora expresses tua demora,<br />a vida já te acenou ao longe.<br />Vem, e junta-te aos teus.<br />Tudo que fizeste é teu,<br />mesmo ausente de ti.<br /><br />4/08/2008 – 23h33<br /><br />13. TÚNIS<br /><br />A casa, esta oca paisagem,<br />sem sortilégio,<br />paredes impregnadas de espanto,<br />tua vida entrevista,<br />fechada como um livro.<br />Não te demores sobre o dia,<br />certo que passarão<br />e se nem lembrarão de ti.<br /><br />4/08/2008 – 23h35<br /><br />14. TRIESTE<br /><br />Ora, o memorial de tuas vidas,<br />aquela que pensaste tua e a outra,<br />que não viveste.<br />Pensa, senão antigas<br />as vitrines do agora,<br />mal teus olhos pousam sobre elas.<br />És esta imagem ou aquela,<br />que nunca viste.<br /><br />4/08/2008 – 23h37<br /><br />15. RAPALLO<br /><br />Esquece, por ora, a vida.<br />Ela não te diz a que vieste.<br />Antes tu lhe dizes a que ela serve.<br />Serve para descobrires os espaços,<br />os vãos entre os dias e horas,<br />aqueles momentos em que nada acontece<br />e só tu olhas.<br /><br />5/08/2008 – 00h36<br /><br />16. RAVENNA<br /><br />Vieste.<br />A vida agora pousa entre dorsos,<br />essas asas dobradas sobre os ombros,<br />tristeza, rosto e paisagem.<br />Vem.<br />Nunca o céu foi assim imenso,<br />cúspide do triângulo,<br />a casa de teus amores,<br />última parada antes do paraíso.<br /><br />8/08/2008 – 21h40<br /><br />17. RABAT<br /><br />Viver é mais simples agora.<br />Descobriste os mecanismos das horas,<br />o abre-e-fecha de portas.<br />As janelas abertas,<br />o dia olha inteiro, indiviso,<br />solilóquio de urdidas horas.<br />A vida inteira,<br />ensimesmada.<br /><br />8/08/2008 – 21h43<br /><br />18. BRINDISI<br /><br />Nada, diz a voz soturna.<br />Tua vida nada é senão o teu silêncio.<br />Vive, pois, essa solitude mesclada de hiatos,<br />em que passas os dias,<br />como se não houvessem.<br />O horizonte, eis o que resta.<br /><br />8/08/2008 – 22h44<br /><br />19. ISLAMABAD<br /><br />O que buscas é tudo.<br />A lousa em que escreves,<br />a mesa em que apoias teus livros,<br />as folhas soltas anotadas,<br />sem perdas de teus anos,<br />que amores trouxeste,<br />que mitos ocultaste,<br />quais sons deixaste de ouvir?<br />Teu lamento é murmúrio,<br />que as folhas envolvem<br />com seu ruído.<br /><br />9/08/2008 – 2h37<br /><br />20. KIEV<br /><br />Desbasta a hora de suas palavras,<br />o rito com todos seus ciclos, o tempo,<br />algibeira comum de todos os homens,<br />o que passa que não se vê?<br />O invisível além do horizonte,<br />o contorno bravio do continente,<br />tua água, teu espelho,<br />festim de corpos,<br />a vida em andrajos,<br />despida.<br /><br />9/08/2008 – 2h41<br /><br />21. TURIM<br /><br />Dize,<br />tua serenidade basta a ti mesma,<br />circunscrita ao tempo de teus amores,<br />natureza em sua forma vivida,<br />porque dizer é sempre urgente<br />ante a razão das horas.<br />E sem elas, nada serão.<br /><br />10/08/2008 – 14h51<br /><br />22. BABILÔNIA<br /><br />Viver, órbita aberta,<br />loucura de ti mesmo<br />sobre o espelho vário.<br />Te deténs ante a aurora,<br />e o dia antes de começar,<br />te aguarda, essa memória<br />retirada de teu tempo havido,<br />dobra póstuma,<br />tua voragem antiga.<br /><br />11/08/2008 – 2h25<br /><br />23. ALMERIA<br /><br />Hoje tens a vida devolvida,<br />como em todas as horas,<br />e o pressentimento não te impediu de nada.<br />Antes foste destemido,<br />entregue à tua ausência,<br />folia de tua têmpera desfeita.<br />Bebe o cálice de penúria.<br />A vida te serve de guarida.<br /><br />11/08/2008 – 2h30<br /><br />24. MÁLAGA<br /><br />Nascedouros,<br />virgens águas,<br />ninfeias, limo e pedra,<br />areias, terras devolutas,<br />claustro, abismo,<br />tua sede e sombra,<br />dedos úmidos,<br />febre alta,<br />a íngreme escada,<br />planalto, aerossóis,<br />círculos concêntricos,<br />tua fala, teu riso,<br />última cor da aurora.<br /><br />18/08/2008 – 00h37<br /><br />25. SEVILHA<br /><br />Nada resta além de um dia.<br />Um dia basta por si só.<br />Nada, além de palavras, silêncios,<br />obscuros meios e temporais.<br />Nada fica: nem a morte,<br />essa escura manhã.<br /><br />7/09/2008 – 21h07<br /><br />26. FARO<br /><br />Entreato.<br />A forma de dizer as coisas<br />sem ter de esperar por elas.<br />O dia.<br />Esta janela aberta<br />sobre tudo que se dissipa.<br />O pó dos móveis<br />se instala despercebido.<br />Fulgor de auroras.<br />Quando me sentir só,<br />abrirei a porta para sair.<br />Ficarei.<br />A escolha última de uma hora<br />que demora a passar.<br />Laço.<br />A vida ensina a desunir.<br /><br />10/09/2008 – 11h44<br /><br />27. GRANADA<br /><br />Não pressenti o perigo,<br />porque me amavas.<br />Não, não pressenti o perigo,<br />porque eu te amava.<br />E amar era a forma<br />de redimir tudo.<br />Perdoar em ti<br />as imperfeições,<br />porque eras só,<br />e escolhias a solidão<br />como punição.<br />Viste-me frágil<br />e puniste a mim também<br />por te amar.<br /><br />14/10/2008 – 10h46<br /><br />28. CARTAGENA<br /><br />Os mares te devolverão<br />a tua imensa saudade.<br />E antes que professes<br />tua angústia,<br />será bravio e destemido<br />em tua última viagem.<br />Ah, a despedida dos aflitos.<br />Ah, a jornada dos dias cáusticos.<br />Tua sombra será tua amiga<br />e retornarás ao jovem<br />que deixaste um dia.<br /><br />16/10/2008 – 7h54<br /><br />29. PISA<br /><br />Os dias.<br />Esses fados presentes<br />aninham-se ao obscuro fim<br />próximo a tudo.<br />A dor.<br />Essa falta de conforto<br />nas horas graves.<br />O olhar.<br />Gesto anterior à palavra,<br />anoitecer de bétulas,<br />pausa entre o choro e o riso.<br />Motivo.<br />Restam os dias mornos,<br />aqueles que passam<br />e se esquecem.<br /><br />29/10/2008 – 15h41<br /><br />30. ISTAMBUL<br /><br />O que dizer das horas inteiras,<br />desbastadas graças,<br />a atingir o célere passo,<br />a voz das longas<br />celebrações do acaso,<br />esta a absurda fala,<br />longinquamente dita,<br />pausa íntima,<br />entreabrir de olhos<br />para além da transparência do dia<br />que se oculta em sua sombra,<br />à revelia,<br />sua ínfima aurora.<br /><br />7/11/2008 – 16h54<br /><br />31. MADRAS<br /><br />Abriste o tempo em gomos,<br />fruta inteira dada aos pedaços,<br />para cada parte, um gosto,<br />visível e táctil favo,<br />com que prendes os dedos.<br />Este o tempo degustado,<br />essa fonte maior que a vida,<br />sabor de tudo, num naco.<br /><br />19/11/2008 – 17h20<br /><br />32. JACARTA<br /><br />A mim restam essas coisas,<br />poucas,<br />larvas de um não-sei-quê que passa,<br />nós a serem desatados,<br />livros por ler,<br />roupas por arrumar,<br />e a vastidão das ideias novas,<br />célebre futuro que inventamos.<br /><br />21/11/2008 – 19h25<br /><br />33. ROMA<br />À mem<span style="font-size: small;">ó</span>ria de John Keats<br /><br />A febre nos acompanha<br />todo o tempo.<br />Os livros, os pórticos,<br />módicas liras,<br />estreitas vielas entre antigos edifícios.<br />Roma se visita à tarde.<br />Igrejas, escadarias,<br />janelas abertas sobre a praça,<br />o céu azul a descoberto,<br />os sinos de São Pedro que retinem.<br />Sentados diante da Fontana di Trevi<br />os olhos passeiam em volta.<br />De que lado fica a piazza?<br />O Café do Brasil.<br />O bistrô acomoda-nos<br />na pequena mesa e trazem<br />o vinho, os talheres, a massa.<br />Um dia de caminhada<br />junto à casa que olha sobre praça.<br />A Barcarola de mármore<br />canta seus nomes escritos na água.<br />O Fórum, a Via Appia,<br />a Casa das Vestais.<br />Estar aqui nos comove.<br />Piazza di Spagna.<br />Princípio e fim<br />da poesia.<br /><br />Rio, 24/01/2009<br /><br />34. ALICANTE<br /><br />Nunca viste dia algum<br />que não se abrisse inteiro,<br />vida pronta para ti,<br />coisa que se desse toda,<br />póstuma, primeira.<br />Nada deixou de ser teu,<br />porque quiseste, antes,<br />no princípio, a eternidade.<br /><br />29/01/2009 – 15h53<br /><br />35. ODESSA<br /><br />Fala<br />vida entrecortada de signos<br />viagem ao centro do universo<br />coma de cometa<br />a tocar a lua.<br />Vê<br />que se passaram os dias<br />os sóis se puseram ao longe<br />e os horizontes não arredaram.<br />Os oceanos profundos<br />conhecem as sendas do mundo,<br />os arrecifes, as naus submersas.<br />Tudo ficou à míngua<br />de uma antiga cantiga<br />que vez por outra volta à praia.<br /><br />5/02/2009 – 11h09<br /><br />36. RIGA<br /><br />Tua efemeridade te assombra.<br />Muito de ti se dissipa em teus gestos.<br />Te afogas em pensamentos que a nada levam.<br />O mar te naufraga, a infelicidade te espreita,<br />És segundo os arrecifes,<br />O mais solitário poeta.<br />Casca inaufragável,<br />Estertor de homem a galgar o abismo.<br />Jamais serás feliz por ti mesmo.<br /><br />31/03/2009 – 18h28<br /><br />37. KIEV<br /><br />Eco e tua casa se avizinha.<br />Nuvem de vir a ser desde ontem.<br />A vida te devolve a um tempo<br />a que não pertences.<br />Tu, imutável signo de labor e espanto.<br /><br />31/03/2009 – 18h30<br /><br />38. KIROV<br /><br />Revisito meu instante único,<br />Aquele à beira de mim,<br />porque estou mais próxima da vida<br />que tenho dentro.<br />Não me basta viver a vida.<br />Ela me tem e mais nada.<br />Quero ser o impossível para mim.<br />O que não esperavam que eu fizesse.<br />E fiz.<br />E pronto.<br /><br />22/04/2009 – 9h50<br /><br />39. ANCARA<br /><br />Unidos, os passados se dividem,<br />E tua fome ainda há de se extinguir.<br />Olha, ainda há estrada,<br />este céu sobre o horizonte à distância.<br />A casa, esta tarde próxima,<br />tantas fragrâncias em teu dorso,<br />fecha, a hora passa, e o dia, auscultado,<br />é ainda tardio, para levar ao futuro<br />a tua memória.<br /><br />22/04/2009 – 20h07<br /><br />40. GIZÉ<br />Para Cecília e Léo Ferreira<br /><br />Ouve<br />sol a sol<br />penúria árido deserto<br />vida oásis segredo<br />sob a tamareira em flor.<br />O vento ergue as flâmulas<br />agitam-se os cordões<br />tendas brancas etéreas<br />almíscar sândalo ouro.<br />Verte<br />esta hora em outra<br />compram-se os livros quimera<br />passa esta fome de eras<br />tempo absoluto em dobro.<br />Venta<br />soam sinos<br />camelos singram areias.<br />Fausto<br />a face ornada<br />a manta sobre o leito<br />a espera.<br />Vive<br />assim como antes<br />nada começa a esmo.<br />A terra orbita em silêncio<br />em seu fuso<br />roca a rondar o infinito.<br /><br />25/08/2009 - 1h48<br /><br />41. SAMARCANDA<br />Esbagaço o corpo e dedico<br />o tempo a retirar<br />o espaço entre os grãos.<br />Pedro Du Bois<br /><br />O tempo de semear<br />as uvas.<br />O tempo de separar<br />os grãos.<br />O tempo de colher<br />e de beber.<br />O tempo de passar<br />e deixar passar.<br />O tempo de escorrer<br />a lama<br />sob os pés,<br />de escorrer o vinho<br />dos barris.<br />O tempo de plantar<br />as sementes.<br />O tempo de escrever.<br />O tempo da terra.<br />O tempo de crescer.<br />Salvar os frutos,<br />replantá-los<br />e colhê-los.<br />Alimentar os homens.<br />Ceifar, podar, nutrir.<br />O tempo de ser,<br />tão-somente ser.<br /><br />31/08/2009 - 21h58<br /><br />42. SUSA<br /><br />Inda mais a fadiga<br />de vagar a esmo, desmedida,<br />mulher de encanto e vida,<br />tudo à beira do mundo,<br />esse cubículo de espera,<br />a ânsia maior que o caos<br />lança dados ao infinito,<br />debulha as lágrimas do olvido,<br />filhos, colheita e repouso,<br />a casa acolhida,<br />lume, candeeiro, abrigo.<br /><br />Na centelha esparsa<br />existe a nódoa,<br />casca, semente dividida,<br />resta um pouco de sol sobre a água<br />fria dos peixes colhidos,<br />fartura de tua mão sobre o óbolo<br />do trigo.<br />Olha-me, és outro em tua medida.<br />Fardo, laço, descolorido.<br />Eu não pude amar<br />e amar foi meu pedido.<br /><br />Tempo, farsa cabal,<br />relógio, ampulheta, círios,<br />toque de harpas celestes,<br />eu, ainda mais o que sou,<br />descaminho, teu caminho<br />de amor.<br /><br />1/12/2009 - 12h08<br /><br />43. MILETO<br /><br />Não tracei teu rosto com a pena curva,<br />moldei-te apenas com meus olhos,<br />de tanto pintar-te sem tintas.<br />Guardei as palavras para descrever-te,<br />e o fel e a sina te expuseram inteiro.<br />Nada pude fazer para velar-te.<br />Minha obra era esperar a esmo.<br />A casa, esta lúcida forma transparente,<br />abriu as portas para receber-te.<br />As janelas se abrem para um sol esquivo<br />e a chuva e a tarde testemunham outros dias.<br />Demoremos sobre o ar e a bruma.<br />Nada foi esquecido que não tivemos.<br />Ter não se reduziu ao pó.<br />Os livros se fecham para nós.<br />Tudo está preso a algum dia que passou.<br />Tens as chaves das trancas presas aos ilhós de tuas velas.<br />O barco não singra antes do anoitecer.<br />É dia ainda sobre o horizonte.<br />Esses favos antigos semeiam auroras.<br />Amanhã, seremos novos.<br />Outros rostos para outra manhã.<br /><br />24/01/2010 - 00h33</span></span><br />
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<span style="font-family: Arial;">44. SAMARA</span><br />
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<span style="font-size: small;"><span style="font-family: "Trebuchet MS",sans-serif;"><span class="fbPhotosPhotoCaption" data-ft="{"type":45}" id="fbPhotoSnowliftCaption" tabindex="0"><span class="hasCaption">Assim como nas alturas,<br /> disseste o que as palavras são.<br /> O caos irrompe manhãs,<span class="text_exposed_show"><br /> como um trem a avançar sobre os trilhos,<br /> e a vida que deixas para trás clama<br /> outro perdão<br /> sobre vales circundados de memória.<br /> É o corpo e sua terra,<br /> a água longínqua a guardar os ruídos,<br /> que retorna sempre sobre o caos de agora,<br /> este que nos atravessa os sentidos.</span></span></span></span></span><br />
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<span style="font-family: Arial;">14/04/2010 - 11h44</span>Thereza Christina Rocque da Mottahttp://www.blogger.com/profile/12771417108487262484noreply@blogger.com6